quarta-feira, 29 de julho de 2015

QUEM PODE ME SEGUIR SOU EU. SERÁ?

Uma só alegria basta para abalar um velho coração, que já não é lá essas coisas, agora empanturrado de coisas boas. Claro que ele não é bem o órgão ideal pra isso embora seja ele o que mais sente pauladas ou afagos; tem um lugarzinho no cérebro que faz essas coisas. Mas o coração virou símbolo de ser isso e aquilo, de bom ou de mau, e também o que recebe; uma espécie de porta de entrada do nosso corpo; o centro de nossas emoções.
Quando minha juventude ficou pra trás achei que o velho Descastes e o bom Spinoza tinham resolvido minhas angustias e preocupações; nós (que ousadia!) éramos racionalistas; e mais: que essa corrente filosófica já era uma doutrina um século antes de Jesus pregar o amor o perdão, oferecer a outra face para um novo tapa, essas coisas que ninguém pratica, mas que sai da boca de todo mundo. Eu não.
Não mudei de opinião e acho que o Racionalismo é o centro e a base do pensamento liberal que propõe alcançar determinado fim para o interesse coletivo. E isso sobre a base do planejamento e da organização abrindo caminho para soluções racionais.
E a dor e a alegria? A saudade e a satisfação da presença de quem se ama? A exuberante sensação de orgulho da conquista? Estão no coração assim como a raiva, o ódio, a mentira, a inveja; todas as maldades e todas as bondades estão no coração, sim senhor! Mas, só porque a razão quer.
Pois esses meses de junho e julho do gracioso ano de 2015 meu coração assumiu o comando e fez de mim gato e sapato. E espevitou-se tanto que cambaleou de um lado para o outro perigosamente; mas resistiu. E transbordante de alegria parnasiana esta zombando das dores do passado.
É assim que posso explicar esse meu coração: primeiro, minha irmã – que não nos víamos há décadas, mas nos falávamos com muita frequência, veio me visitar; comemorar com minha mulher e meus filhos – sua cunhada e seus sobrinhos que não conhecia – meus 75 anos de participação ativa sobre esse planeta Terra. Foram dez curtíssimos dias e noites de muita conversa. De recordações de todos os tipos e de muitas pessoas, de coisas e animais. Animais sim: o cachorro Brasino, a ovelha Chica, o cavalo Baio. De pessoas falamos sobre amigos e parentes – mortos e vivos, mas deixamos de lado alguns que não merecem sequer meio dedo de prosa – e falamos principalmente de nós dois (que é o que interessa), um pouco do presente e muito, mas muito mesmo, do nosso passado. E acima dessas coisas do quanto eu a protegia das peripécias e pequenas lambanças infanto-juvenis que fazia. Sempre fomos muito apegados, muito próximos, apesar das pedras que jogaram em nossos caminhos.
Assim enchemo-nos de recordações, de alguns conselhos, de comidas e de bebidas, e ela de fumaça o pulmão. O que se há de fazer? Com pouca visão não pode ver muitas coisas, mas sentiu o amor da cunhada, dos sobrinhos e o meu, inesquecível, e agora renovado. Já voltou pra casa; pra seu filho, seu neto, suas noras; e fez uma boa viagem.
Pois esse meu coração “empirista” e eu um desavisado, depois dessa revisita aos idos do passado, fui mais uma vez comandado por ele. Pedro, meu filho mais moço dos quatro, com 17 anos de idade, antes mesmo de concluir o ensino médio, foi aprovado no vestibular da Faculdade de Arquitetura e inicia o curso já no segundo semestre desse ano na Universidade de Fortaleza-UNIFOR (conceito 4 do MEC – de 1 a 5), onde também minha filha Cecília, com 19 anos de idade, já cursa o Quarto Semestre da Faculdade de Direito.
Assim foram-se às favas meu Racionalismo e me entreguei ao Empirismo do coração. Racionalmente, porém, foi o que pude fazer de melhor nesses últimos 20 anos da segunda etapa de minha vida, encorajado e revivido por Ciza, minha mulher. Agora ando pra lá e pra cá (como escreveram Graco e Caio Silvio; e Fagner cantou) com esse meu coração alado e desfolhando meus olhos nesse escuro véu...nessa estrada só quem pode me seguir sou eu. Será?

quinta-feira, 23 de abril de 2015


APROVEITEI O FERIADO E DESASINEI
Aproveitei o feriado de Tiradentes e me “desasinei” temporariamente. Isto é: deixei de ser asno, conforme havia recentemente declarado na minha crônica/artigo Mais gordo, nu e sem pele. Nada de novo. Tudo continua como sempre esteve nesse país que é “um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança que a terra desce.” E pouco é mais do isso, exceto uma ou outra novidade. Na moda, Gisele Bündchen, a mais elegante, bonita e sensual mulher do mundo deixou as passarelas. Minha conterrânea saiu na hora certa, que é quando se está tocando o teto do mundo com a cabeça. Mas não abandonou o “mundo” da moda. Com os licenciamentos e as grifes ganhou ano passado 48 milhões de dólares; nas passarelas, já não chegava a 10% desse valor.
Já sabia que “self”, palavra inglesa, como havia dito, é o mesmo que por si mesmo – ou de si mesmo – em português e as pessoas continuam tirando suas próprias fotografias e por isso, “fazendo um self”. É a moda; e o que é da moda não incomoda, dizia-se antigamente. Entretanto quando li que um ator famoso “fez um self” achei que o fofo tinha se masturbado. E piorou minha estultice quando soube que já existia “pau de self”. Aí pensei que já é possível tirar fotografias com o próprio pênis; talvez seja um pênis especial, desconhecido para mim.
A imprensa, com tanta notícia, não sabia ao que dar mais destaque neste 21 de abril. Se a inauguração de Brasília, há 55 anos, ou se a Tiradentes, morto por fuzilamento, depois degolado e esquartejado há 223 anos, quando os pedaços do corpo dele foram espalhados estrada a fora, do Rio a Minas, pelos irmãos portugueses daquela época. Época em que o Brasil sequer existia, não tinha esse nome, era apenas terra portuguesa no novo mundo, também chamado Brasil colonial pelos historiadores. Não havia o país Brasil, nem a pátria brasileira. Não havia uma Nação.
Tiradentes e seus companheiros formavam um grupo de portugueses nascidos na colônia que se revoltou contra os portugueses colonizadores. Proprietários rurais, a Igreja Católica, alguns intelectuais e militares pertencentes à elite econômica, a mais abastada, reclamavam (nem luta houve) em defesa de interesses particulares, de seus negócios e não de todo o povo da colônia. Não entendo o porquê de Tiradentes ser nosso herói, nosso mártir. Talvez a crueldade com a qual os portugueses tratavam seus colonizados tenha enternecido o coração dos historiadores; os portugueses eram brutais, sem dúvida. "O Estado brasileiro é fruto de uma convenção brutal. O colono (e o colonizador) podia escravizar, matar e mutilar os índios além de ocupar suas terras e engravidar as índias. Quando os gentios reagiam à brutalidade portuguesa eram considerados hostis e exterminados ainda mais rapidamente”.Escreve o advogado Fábio Oliveira Ribeiro no CMI Brasil.
Tiradentes foi uma espécie de bode expiatório. De todo o grupo era o menos poderoso, o que tinha menos dinheiro e propriedades. Um simples comerciante; às vezes tropeiro, às vezes minerador, militar, sim, mas apenas um subtenente e “tirava dentes” de quem precisasse livrar-se da dor. Não subestimo o Joaquim José da Silva Xavier por isso. Mas não o reconheço como nosso mártir por ter lutado por uma Nação Brasileira.
Terminado o feriado sem mais nenhum acontecimento, continuei “desasinado” por mais um dia já que a quarta feira prometia, como se diz. Os jornalões digitais e os noticiários de todos os canais de TV me excitavam com a espera da divulgação do balanço auditado da Petrobras. Assunto que 99,95% da população brasilina não tem o mínimo interesse já que não entende bulhufas do significa. Significa que os 21,6 bilhões de reais de prejuízo, obra da má gestão com roubalheira posta na mão de “sindicalistas companheiros” há dez anos, quando Lula, o presidente, aparelhou o Estado com três partidos políticos – PMDB, PP e PT – isto é: partidarizou as empresas estatais, os preços dos combustíveis (incluindo o gás de cozinha) vão aumentar. E com eles os dos produtos e transportes.
Os 54 milhões que acreditavam que estaríamos todos no paraíso com Dilma.2 nem que a vaca tussa, arrastando outros 50 milhões que sabem que vaca não tosse, terão que repor à Petrobras os 21,6 bilhões de reais pagando um preço bem alto resultado de uma simples e populista equação para manter a “popularidade” e ganhar a reeleição e manter o trio de partidos políticos no poder. Assim: compra-se petróleo caro, vende-se gasolina sem aumentar o preço (subsidiado). Agora que o preço do petróleo baixou consideravelmente no mercado internacional, aumenta-se custo da gasolina comprando petróleo barato. Os 21,6 bilhões de reais de prejuízo serão repostos rapidamente e ainda sobrarão alguns bilhões para novas corrupções e pagamentos dos prejuízos das empreiteiras paradas de funcionar com a prisão de seus proprietários. Daí por que a “delação premiadíssima”.
E quando o presidente da Petrobras, Ademir Bendine, disse que “Temos a convicção de que a companhia vai retomar sua capacidade de geração de valor. Nosso maior ativo é o quadro de pessoal. São pessoas engajadas. Estamos revendo ainda o nosso plano de negócios e, sendo aprovados, vamos voltar a publico.” reassumi a minha condição de asno. Até mais!

sexta-feira, 20 de março de 2015



MAIS GORDO,  NU E SEM PELE
Ainda meio zonzo com a informação que a corrupção é uma velha senhora, fui dormir. Virando de um lado para outro o sono não vinha e enquanto me debatia na cama via a imagem de um gringo imbecil dizer que o povo protestando nas ruas do Brasil não eram eleitores da Dilma Vana ao lado de outro imbecil que antes havia falado abobrinhas, balangandãs e merda. Muita merda. Assistia um coronelete matuto, ministro da educação, metendo o cacete em cachorro grande, achando que na capital da República ele pode escoicear quem quer como faz no feudinho chinfrim dele.
Saí da cama e fui me servir de um trago; pensei num Jack Daniel’s, mas devido ao adiantado da hora e da circunstância optei por uma boa dose de Ardbeg 19 anos, por ser um single malte das ilhas escocesas e um dos mais complexos dessa região com intenso sabor defumado e aromas marinhos. Seu teor alcoólico elevado de 46% assim como seu preço - R$ 270 a garrafa – me faria dormir. Adormeci. E sonhei.
Sonhei que eu tinha 14 anos e fomos todos mandados do Colégio Rosário para casa. Getulio morreu! Atrevido e curioso com dois ou três colegas descemos a Rua da Praia e vimos o povo quebrando lojas, saqueando todas as que tivessem um nome estrangeiro. E a maioria tinha um nome estrangeiro. Foi a primeira crise política que assisti. Depois vieram outras sendo que de algumas delas participei diretamente; como estudante ou como profissional. Ao todo, contando com essa de agora, foram 5 ou 6.
 Um sono inquieto me fazia sentir por todo o corpo uma estranha sensação. Alguma coisa – ou tudo – estava se transformando em mim; por dentro e por fora. Acordei cansado e o sol mal clareava a cortina do quarto. Eu estava maior. Mais gordo, nu, sem pele; coberto apenas com uma espécie de pelo. Não tinha braços; tinha pernas. Quatro pernas com patas. Girei o corpo e minha boca com dentes graúdos bateu na mesa de cabeceira; não tinha rosto, tinha um focinho numa cabeça com olhos grande postos aos lados e com eles via enormes orelhas.
Lembrei-me de Gregor Samsa, que, dormindo, metamorfoseou-se numa barata. Não era meu caso. Eu tinha sido autotransformado num asno. Não gosto dessa coisa de si mesmo e autorretrato, autobiografia, pois como FHC também acho isso muita pretensão; ou autoajuda, uma impossibilidade, e autodidata que é o mesmo que um ignorante ensinando outro.
Minha autotransformação num asno, entretanto, foi por indução voluntária; de espontânea vontade, provocada para não enlouquecer ou me tornar um palhaço, no sentido ofensivo da palavra. Sei que com isso encerro o desejo de um dia voar e me tornar invisível. Mas meu último desejo, assim como foi o de Noel Rosa, digam que me viram voando por aí e que, de repente, desapareci e reapareci, pois me tornei invisível.
Sempre achei que a melhor saída do Brasil fosse o aeroporto. Mas hoje nem isso é mais possível porque, como disse Millôr Fernandes – ou teria sido Nelson Rodrigues? – “Brasil: se cercar vira hospício. Se cobrir vira circo!” Agora, enfim, cercado e coberto, sem céu, nem avião sai daqui. Sendo assim, tornei-me um asno. Uma subespécie de mamífero. Mas também podem me chamar de burro, jumento, jegue, jerico; menos de Dilma, pois não aceitamos ofensas e nem comparações “apequenadas”. Temos muito mais do que apenas um neurônio.
Somos dóceis, prestativos, trabalhadores, comemos apenas capim, bebemos pouca água, ouvimos tudo em silêncio, não mentimos nem enganamos os humanos e somos mitológicos, fabulosos, personagens literários e iconográficos. Estou orgulhoso, satisfeito e, sinceramente, vaidoso sem nenhuma modéstia à parte.
Soube a pouco por um velho asno que pastava alegremente que sou ancestral de asnos históricos e que nossa espécie existe a mais de 5 mil anos. Que maravilha! Um asno carregou Sancho Pança e ajudou Dom Quixote a enfrentar moinhos de vento que lhes pareciam ser monstros.
É certo que também nos maltratam muito. Shakespeare nos usou como símbolo de ignorância. O menino que andava com Pinóquio, por ser muito mau, foi transformado num jumento. No nordeste, só porque somos muitos, nos abandonam e ingênuos que somos atravessamos estradas sem olhar pros lados e morremos atropelados por enormes caminhões; do tamanho de um Palácio do Planalto. Ou de um prédio daqueles alinhados na Esplanada dos Ministérios. Bem que parecem!
Fora isso, somos muito ocupados; nós carregamos pesados barris com água, um de cada lado do lombo, sertão adentro, todos os dias o dia todo. Não nos importamos; estamos fazendo nosso trabalho a séculos, levando a água que os “coroné promete” que um dia “vai moiá o sertão tudim cabano coessa secura”.
Jumento, jegue, burro ou asno são todos a “mema coisica” – ói só! já tô falano inté com jeitim dels. Foi um asno, que chamam de burrinho, que levou Maria, grávida, pra Belém, na Palestina sob o domínio do Império Romano e que hoje, depois de invadida pelo judaísmo sionista do leste europeu, com o “aval” da ONU e de nosso gaúcho Oswaldo Aranha, pretendem eliminar do território e do mapa, árabes muçulmanos ou cristãos. Netanyahu quer a extinção deles e tomar para Israel toda a Palestina.
E lá, em Belém, numa cocheira, assistiu o nascimento de Yeshua e a ele cedeu seu cocho, luxuosamente também chamado de manjedoura, para que nele fosse acomodado. Viu três reis ditos magos e depois levou em seu lombo Maria e Yeshua, seu filho, guri recém nascido, até o Egito a quilômetros de lá. E foi um asno que 33 anos depois levou Yeshua, homem feito, no lombo a entrar triunfalmente em Jerusalém. Faz tempo isso. Se essa história é mito, lenda ou verdade histórica e teológica não me importa. Já pensava assim quando eu ainda era um ser racional; mas agora sendo asno sou parte do que seja.
Como asno recente que sou, guardo ainda algumas experiências humanas e estou pronto para ser presidente do Brasil. Não será caso inédito, pois não serei o primeiro. Mas o que me atrai é o gramado da frente do Palácio da Alvorada. Já sinto o aroma da grama fresca e bem cuidada e uma vontade incontrolável de pastar e depois dar zurros de alegria.
Sinto também, queridos leitores, uma acentuada difificuldade de esquecrever já que não tenho mais dedos. Minhas pataas esttao ccad vez maisss tlecand letãs eud nffffjj rldkif  rmjruhslkldh bjhijrk kfjnikj  ekdun cunulmn  trx’







quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

LA VEM ELA. GOSTOSA. TODA PROSA. FIU! FIU!

Há quem diga que o Brasil não é um país, mas sim uma piada. Não creio; se for é de muito mau gosto, Do tipo Charlie Hebdo. Não é, também, o país mais corrupto do mundo já que uma dúzia deles pela África, America do Sul e pelo oriente ganham de goleada já nos dez primeiros minutos de competição.
O Brasil também não é um país violento mesmo que nesse quesito nossa posição mundial é considerável; há mais mortes no trânsito em uma semana por aqui do em um ano em Nova York. Aqui se matam mais mulheres do que em países sabidamente antimulheres que as exterminam a pedradas ou as mutilam costurando suas vaginas.
Eu moro na segunda cidade mais violenta do mundo. No Rio de Janeiro balas perdidas acertam quem não tinha nada a ver com os tiroteios entre traficantes. Polícia bate nos protestantes porque goza e mata porque é despreparada, desequilibrada.
Na política nada há nada mais patético, rasteiro e, dizem, democrático, pois qualquer brasileiro pode votar e ser votado; vai de Sarney a Tiririca passando por um presidente dessa república analfabeto eleito e reeleito. E só Tupã sabe o que compõe assembleias legislativas e mais de cinco mil camaras municipais. Famoso ou apenas notório, seja lá por que for, tem vitória garantida em qualquer eleição.
É o caso do vereador Aonde é; um entregador de pizza que ganhou essa identificação por perambular por um bairro da periferia, em busca de um endereço perguntando: aonde é? Eleito, com esse nome, “Aondeé” na urna eletrônica com esse nome, em três meses comprou sete apartamentos com parte do salário dos assessores de seu gabinete. Foi preso, solto e está de volta a camara municipal e terá que dar explicações a “comissão de ética”. Mas já declarou: “fui vítima de uma armação”.
Somos chamados de “macaquitos” pelos argentinos não porque somos negros, mas por que imitamos os norte-americanos em tudo até onde formos capazes. Operações militares eles batizam com expressões de grande efeito como Tempestade no Deserto; parece titulo de filme feito em Hollywood. Aqui nossas operações policiais têm nomes espalhafatosos como Operação Lei Seca, Operação Satiagraha, Operação Lava-Jato. Assim mesmo, com hífen e tudo.
Esse Brasil meio galhofeiro infestado de bandidos, larápios, vigaristas e povo ignorante (lato senso como adjetivo e substantivo de dois gêneros) não é, certamente, o pior dos mundos; muito menos o melhor. Nem uma coisa nem outra. È impagável, ridículo, cômico de nascença, carnavalesco.
E chegou o carnaval! E chegou durante e enquanto a patifaria come solta, pois o negócio é sambar. Com alegria, com graça. Na escola de samba União da Ilha, do coração de Graça Foster há 18 anos, e onde ela já desfilou outras vezes, esse ano o enredo será uma graça: “Beleza Pura?”. Segundo o jornal O Globo, o presidente da escola diz que as portas estão abertas para tão ilustre e bela figura que “poderá escolher entre, pelo menos, cinco fantasias para representar o enredo “Beleza Pura?”. A escola, que pretende tratar sobre o tema da beleza de maneira bem-humorada, irá compor o desfile com disfarces de “Frangos de Academia” - em uma referência às pessoas que têm obsessão por malhar -, “Rei do pop e do Retoque”- representando o cantor Michael Jackson -, “Zé Bonitinho, o perigote das mulheres”, “A corte da moda” e “O Herói e a Proteína”.
Se Graça Foster sambar, na avenida, cantará faceira o refrão “Lá vem ela, toda prosa, gostosa, fiu, fiu! A beleza tá no seu interior.Nos olhos de quem vê.No verdadeiro amor”. Na última vez que Graça Foster desfilou na União da Ilha foi na ala Xangô “orixá relacionado à justiça, que nas religiões afro é visto como aquele que castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores”. A União da Ilha tem entre seus patrocinadores a Petrobras de quem recebe um milhão de reais.
Quem me contou essa história foi Vulpino Argento, o Demente, suplente de senador não eleito que leu a notícia no jornal O Globo que não permite que suas matérias sejam publicadas, transmitidas por broadcast, etc, sem autorização. O que é justo. Mas ler e comentar, no boca a boca, acho que pode. Não sei esse enredo da União da Ilha, “Beleza Pura?”, é mesmo uma pergunta, uma gozação com a Graça Foster ou se é mesmo coisa de Brasil pátria educadora e seus brasilinos.



quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

ASSIM FALOU DILMA.2

Dilma.2 fez nessa terça feira,23 de janeiro sua primeira reunião ministerial de seu novo mandato; nem tão nosso assim. A presidente segundona foi insuperável, mais uma vez, de si mesma. O espetáculo se deu na granja do Torto (huumm!) e começou meio enviesado. A produção do mafuá se esqueceu de tirar o brilho da exuberante maquiagem, o microfone não funcionou e o “teleprompter” semi-invisível andava mais lento do que seu raciocínio apesar de funcionar com apena um único e imbatível neurônio. Mas vestia um não sei lá o que dourado com gola oriental, cabelo cortado para a ocasião com leves toques de brilho; estava uma fofura – diria se tivesse suficiente intimidade. Saiu do ar. Voltou e a frente de um fundo de pedras empilhadas, reclamou, fez cara feia, manteve seu nariz empinado que nem pandorga e mandou ver sua verborragia grotesca, complexa,confusa pois ainda fala em dilmês tardio pré cabralino.
Assisti tudo, do início ao fim, como meio de, martirizando-me, receber uma graça de Tupã e de meus protetores: Sepé Tiaraju, Caipora e a Teiniaguá. Como meus leitores devem pagar seus pecados cada um a sua maneira, vou apenas destacar alguns trechos da prosopopeia dilmesca ( Figura em que o orador atribui o dom da palavra, o sentimento ou a ação a seres inanimados ou irracionais, aos mortos ou aos ausentes) para não torturá-los ainda mais do que os 200% de juros do cheque especial.
Dilma.2 disse: “Bom, então a minha primeira recomendação para vocês, que vão compartilhar comigo essa responsabilidade de governar e desse novo mandato, é trabalhar muito para que que nós possamos dar sequência ao projeto político que nós implantamos desde 2003, e que está mudando o Brasil, mudando para muito melhor, porque nós temos menos pobreza, mais oportunidades, temos uma situação de mais igualdade, mais direitos e cada vez mais democracia”.
Depois de nós e mais nós ela reafirma a intenção de não deixar o governo do Brasil nas mãos de ninguém que não seja do PT, pois é um “projeto político”. Depois de algumas mentiras - a pobreza não diminuiu; foi estatisticamente deslocada e nem há mais oportunidades e igualdades e muito menos ainda temos mais direitos - disse sem explicar que diabos é isso – e não há possibilidade de se ter mais ou menos democracia, já que ela é um sistema político que desde a antiga Grécia até os dias atuais tem tido diversos formatos e regimes distintos. Democracia não se quantifica
“Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Nós não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública, a posição do ministério à opinião pública. Sejam claros, sejam precisos, se façam entender. Nós não podemos deixar dúvidas."
Provavelmente ela se referia à patifaria e as vigarices – fora os crimes – que a cambada ministerial e outros em altos cargos federais vêm fazendo como nunca antes “nesçsepais.” (!) Como enfrentar o desconhecimento do que todo mundo sabe e a desinformação do que vem sendo informado, sempre e permanentemente? O que isso significa? Nada. Definitivamente nada!
Dilma.2 disse: “ E foi isso... e foi nisso que a maioria do povo brasileiro,(referindo-se a educação) dos homens e mulheres deste país deram o seu voto, foi para isso que eles deram seu voto. Este é o meu compromisso, fazer com que o Brasil nos próximos quatro anos, tenha condições de ter as medidas necessárias para manter íntegra a estratégia de construir um país desenvolvido, um país próspero, cada vez mais igual, menos desigual, fazendo tudo o possível para manter e fortalecer o modelo de desenvolvimento que mostrou ser possível conciliar crescimento econômico, distribuição de renda e inclusão social.”
Misturou alhos com bugalhos somou bananas com abacaxis.  Certamente foi com esse “raciocínio” torto – e estava lendo – que deve ter surgido o tal “slogan” Pátria Educadora. Essa coisa nenhuma, sem pé nem cabeça; abstrata.
Depois de culpar a China, a Europa (como se fosse um pais) o Japão e a queda no preço das commodities pela nossa estagnação econômica e consequente aumento da inflação, ainda culpou a falta de água pela falta de chuvas, Dilma.2 disse: “Diante destes eventos internos e externos, o governo federal cumpriu o seu papel. Nós absorvemos a maior parte das mudanças, dessas mudanças no cenário econômico e climático em nossas contas fiscais para preservar o emprego e a renda. Nós reduzimos nosso resultado primário para combater os efeitos adversos desses choques sobre nossa economia e proteger nossa população. Agora, atingimos um limite para isso. Estamos diante da necessidade de promover um reequilíbrio fiscal para recuperar o crescimento da economia o mais rápido possível, criando condições para a queda da inflação e da taxa de juros no médio prazo e garantindo, assim, a continuidade da geração de emprego e da renda.”
Não há como comentar tanta besteira e nem o que disse a seguir. Vou concluir com o que há de melhor; de mais Dilma, de mais PT – “Gostaria de falar para vocês agora - podia passar mais rápido, por favor? -(teleprompter lento) que toda vez que se tentou, no Brasil, toda vez que tentaram, no Brasil, desprestigiar o capital nacional estavam tentando, na verdade… Bom, eu vou preferir ler, sabe? Estavam tentando, na verdade, diminuir a sua independência, diminuir a sua concorrência e nós não podemos deixar que isso ocorra. Nós devemos punir as pessoas e não destruir as empresas. As empresas, elas são essenciais para o Brasil. Nós temos que saber punir o crime, nós temos de saber fazer isso sem prejudicar a economia e o emprego do país. Nós temos de fechar as portas para a corrupção. Nós não podemos, de maneira alguma, fechar as portas para o crescimento, o progresso e o emprego.”
Fico com a impressão, com esses nós temos, nós não podemos, que a bandalheira toda que ocorre há 12 anos, foi no vizinho, na casa da mãe Joana. A nossa grama é mais verde do que a deles. “Temos que continuar acreditando na mais brasileira das empresas, a Petrobras.” O que a Petrobras “fez” para merecer nossa descrença? Será ela é algum tipo de ser vivo, com vontade própria a fazer mal feitos por aí? Assim terminou o discurso da primeira reunião ministerial: ridículo, mentiroso, patético. Dilma.2 não sai do palanque, do discurso de campanha eleitoral que 54 milhões de eleitores gostaram e decidiram a vida de 200 milhões de habitantes brasilinos.
Os eleitores ignorantes (a maioria) e os aproveitadores (os de sempre), acreditam que votar é um dever cívico, que o voto é a arma do povo, que é um direito de liberdade. Democrático. Não é. O voto é obrigatório; se não votar há punição. Portanto ninguém é livre. Porém, há um “jeitinho”; uma condescendência democrática. Se não votar em três eleições o Titulo de Eleitor é cancelado ou então o eleitor paga uma multa calculada em UFIR (quem sabe o que é isso?). É assim: 3% VR (valor de referência) = 3(33,02)/100= 0,9906 *UFIR 0,9906 x R$ 1,0641 (VALOR DA *UFIR EM REAL) = R$ 1,05 (UM REAL E CINCO CENTAVOS). Assim é nossa democracia. Não são passeatas, nem a imprensa, nem redes sociais que nos darão o governo que merecemos. Deve haver outros meios; um deles a “imprensa livre” chama de terrorismo. Eu não sei! O Unabomber, que cumpre prisão perpétua nos EEUU, recomenda: “ bata a onde dói mais.” Pode ser a solução.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

 JE NE SUIS PÁS CHARLIE

Estou rodeado de “je sui Charlie”, mesmo sem ter facebook, watts up e coisas das “redes sociais”, exceto há alguns blogs, volta e meia saio da minha caverna pra ver se o mundo ainda não acabou. Só por curiosidade. Então me deparo com mais uma tragédia entre os que concordam com os que têm outra opinião, uma típica estupidez humana.
Mas quero antes fazer algumas observações. Quem conhece o Charlie Habdo? Em Paris com população de pouco mais de 2,5 milhões de habitantes, sua tiragem não passava de 60 mil exemplares. Quem leu matéria da Folha de São Paulo do último dia 7, uma colaboração de João Batista Natali ficou sabendo um pouco mais. Que famosos cartunistas franceses editavam em 1970 o jornal satírico “Hara-Kiri” que foi fechado naquele ano, da morte de Charles de Gaulle, aos 80 anos de idade, na aldeia  Colombey-les-Deus-Eglises, quando publicaram a capa com uma enorme manchete: “Baile Trágico em Colombey:um morto”.
O presidente Georges Pompidou, gaullista, mandou proibir a circulação do “satírico” jornal. A “graça” desagradou quase que a toda a França. Claro! De Gaulle, defendeu a França do avanço Nazista e comandou a resistência a ocupação alemã. Mas a turma de Vichy colaboracionista entregou milhares de judeus aos alemães, como todos sabem. De Gaulle, herói, não merecia tal brincadeira, certamente.
Essa turma então fundou o Charlie Hebdo  que se define junto ao título como “jornal irresponsável”. A capa “informando” a morte de Michael Jackson foi o desenho dele, uma caveira, com o título “enfim branco”. A linha editorial do jornal é essa; chocante, atrevida, verdadeiramente irresponsável.
Aqueles leitores que já estão me chamando de reacionário, politicamente incorreto e outras bobagens modernosas, se forem famosos, mas muito, muito famosos, podem acabar na capa do Charlie Hebdo antes do sepultamento, ainda no velório. Há quem compare o Charlie Hebdo ao Pasquim. Entre esses os jornalista do programa Globonews Em Pauta. O Pasquim comparado ao Charlie Hebdo e o mesmo que fazer isso com o “jornalzinho” –carinhosamente – do Grupo Escolar com o londrino The Telegraph; se é que me entendem. A manchete do “Estadão” beirou a perplexidade do patético: ”França tem onda de violência; Al-Qaeda treinou suspeito”. A Folha de São Paulo - on line - alardeia espantada: “Em dia com cercos e reféns, polícia mata irmãos suspeitos de atacar jornal francês”. E conclui: “Polícia matou terceiro suspeito, que fazia reféns em um mercado judaico na periferia de Paris; ele tem ligação com os irmãos Koauchi, apontados como autores do ataque a jornal francês 'Charlie Hebdo' que deixou 12 mortos nesta semana”. Incrível isso. A polícia francesa mata “suspeitos”.

O Charlie Habdo sofreu diversos atentados ao longo desses quase 40 anos e seus fundadores que dizem serem “os pais” dos nossos cartunistas – tenho dúvidas – envelheceram tinham entre 70 e 80 anos, como tem hoje os “filhos” brasileiros deles. A morte estúpida deles não deve ser também a do hebdomadário francês. Se fechar – a pesar de seu humor grosseiro -  será a vitória da barbárie praticada por grupos fundamentalistas religiosos; nesse caso, a ser provado, islâmicos. Barbárie que cristãos e muçulmanos estão em confronto há séculos. Os Cruzados, a Inquisição, a Companhia de Jesus, a Congregação para a Doutrina da Fé, organizações da Igreja Católica, aterrorizaram a Europa, as Américas e o Oriente Médio muito mais, com mais violência irracional. “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa” em diz Vulpino Argento, o Demente, e ainda suplente de senador.
Não sou religioso, portanto não defendo a matança insana que grupos islâmicos praticam mundo a fora; e nem os condeno por sua religião, mas sim por seus crimes, a exemplo do que já fizeram os cristãos, como já disse. Mas essa coisa que é outra coisa atingiu o alvo mais sensível; a imprensa. Os jornalistas estão indignados – nem tanto com a morte – mas com a audácia dos “suspeitos” em tentar calar a liberdade de expressão, um dos símbolos da democracia.
Não é bem assim. Nenhuma ação, inclusive a liberdade, é um campo sem fronteiras, sem cercas, limites e respeito à alteridade dos indivíduos. Separemos o horror do massacre assassino, da liberdade sem limites de expressão, da liberdade de imprensa. Não se pode confundir liberdade com regalias, imunidades. Manifestar livremente ideias, opiniões está diretamente associado à compreensão da melhor escolha, as alternativas que se dispõem. Essa premissa cartesiana mostra que quanto mais evidente for a verdade da alternativa disponível para a sua manifestação, maior é sua chance de escolha.
O holandês Spinoza, com outras palavras, concorda com o francês Descartes afirmando que o ato de ser livre implica em assumi-los e responder por eles. Em seu Tratado Político escreveu: “Não rir nem chorar, mas compreender” Mas liberdade de imprensa não rima com filosofia e estou a tratar disso me arriscando com as palavras mais do que caminhar por um campo minado. Entre outras liberdades, como as de expressão, religiosa, política a de imprensa tem suas próprias verdades dependendo de que lado ela esta. Teoricamente é livre quando informa sem a interferência do estado; é livre, pois não sofre influência estatal. Quando não, esta sob censura, a serviço do estado. Todavia quando a imprensa esta, de livre e espontânea vontade, resguardando interesses a seu favor e  aos do estado, ela é livre.
Esse explosivo paradoxo relativiza a premissa de que a imprensa deve ser livre porque ela não pode, tanto quanto nada e nem ninguém ser absolutamente livre. Noam Chomsky do alto de seus 86 anos, em 2002, quase 10 anos antes, portanto, escreve em seu livro Mídia “considerando o papel que a mídia ocupa na política contemporânea, somos obrigados a perguntar: em que tipo de mundo e sociedade queremos viver e,sobretudo, em que espécie de democracia estamos pensando quando desejamos que essa sociedade seja democrática?”
Noam Chomsky  demonstra que todas as notícias passam por cinco filtros antes de serem publicadas e que combinadas distorcem sistematicamente a cobertura das notícias pelos meios de comunicação. Destaco três: primeiro – a maioria dos meios pertence a grandes corporações. Segundo filtro – a maior parte da receita dos meios vem da publicidade das  grandes corporações e não de seus leitores.Terceiro filtro os meios dependem das corporações e dos governos como fonte de informação para a maior parte das notícias.E que se refere aos conceitos e as normas da profissão jornalística que são comuns entre si. Resultando daí um consenso entre a elite da sociedade sobre os assuntos de interesse público.
O destaque que a imprensa mundial dá a morte estúpida, sim, pela qual foram eliminados quem expunha suas ideias, não é, sem dúvida, proporcional a matança que tropas francesas fazem no oriente médio.
Comparar  com “ “o onze de setembro”, em Nova York e repetir à náusea “preservar a liberdade de imprensa” sugere um contra ataque militar a dois criminosos que (até enquanto escrevo, mas serão mortos) 86 mil soldados e policiais não conseguem prender porque são incompetentes?
O “9/11” – como dizem os americanos – foi um ato político religioso contra o capitalismo e a democracia. As Torres Gêmeas formavam um complexo de oito edifícios símbolo do poder econômico. O jornal  Charlie Hebdo em formato tabloide, semanal, como muitos outros em toda a Europa se ocupam em desconstruir, pela gozação grosseira ou pela fofoca vulgar, qualquer coisa ou pessoa. Isso não é jornalismo. Portanto a liberdade de expressão não foi atingida. Mataram de maneira estúpida e atrapalhada – perguntaram onde ficava o jornal – um grupo de cartunistas que ofendia a dignidade da crença religiosa, pelo terror. A indignação, a tristeza e a perplexidade para isso é ilimitada. Pessoalmente não vejo graça – nem humor – em desenhar o profeta Maomé de quatro, nu, com uma estrela dourada na bunda e o título “Nasce Uma Estrela”. Nem se fosse o Papa Francisco, Jesus Cristo, Dom Pedro II,Pelé,Lula ou a mãe do Badanha. Je ne suis pás Charlie.
 

sábado, 8 de novembro de 2014

UM POUCO DO MESMO. APENAS BEM DIFERENTE.
Tenho tentado ficar distante, alheio mesmo, do “processo eleitoral” e tratar de escrever meu livro, mas não consegui. Não que eu seja um alienado ou analfabeto político. Voto a mais de meio século, e já protestei, já concordei, já fui presidente mesário com urna de lona e a primeira eleição que cobri foi no tempo que os votos eram contados no armazém nº 1 do cais do porto em Porto Alegre. “O que vai pelo pleito! Ou a marcha do pleito!”, não lembro. Lembro bem, porém, que era o Amir Domingues que anunciava pela Rádio Guaíba, comandando a “jornada eleitoral”. E também não me esqueço de que andávamos de Kombi e quem dirigia era o Doutor Paulo Millano. Assim percorríamos as sessões eleitorais de uma ou mais zonas eleitorais. Eu pedia ao presidente da mesa o número de votantes e se tinha alguém que interessasse destacar; alguém famoso, por exemplo. Depois perguntava onde havia um telefone; em geral ele estava na secretaria da escola, eternos locais de votação. Ligava para a Guaíba e o Krebs dizia: fica na linha! E pelo retorno eu ouvia quem estava no ar até chegar a minha vez. E o Amir dizia: e agora de uma de nossas unidades móveis vamos chamar o repórter Cesar Cabral em algum ponto da cidade. Eu dizia: estamos (era sempre no plural) na zona tal e etc e tal quantos eleitores, quantos já haviam votado – numa delas tinha sido a nossa Miss, Ieda Maria Vargas. Falei pelos cotovelos até o Amir me cortar (eu não parava de falar abobrinhas sobre a miss). “Muito bem, Cesar já temos outros repórter na linha...”. Mas eu tinha que encerrar a “intervenção” como se dizia, com o “bordão” padrão. “Essa foi mais uma informação sobre a marcha do pleito; patrocínio Panambra, revendedor autorizado Volkswagen.” Há quem não acredite. Impossível continuar indiferente em 2014.
Depois o Jânio Quadros renunciou o Leonel Brizola criou a Rede da Legalidade, o avô do Aécio Neves inventou um plebiscito – parlamentarismo ou presidencialismo? – o Jango assumiu a presidência da República, foi derrubado pelos generais do Exercito e eu ainda aguentei alguns meses na Caldas Junior – Correio do Povo e Rádio Guaíba – e fui demitido; diziam que eu era “vermelho”. Mas isso já é outra história.
Pois como não dá pra ficar de fora do “processo eleitoral” dei uma olha nas campanhas; principalmente nas das TVs. Diverti-me muito, com as tais de propostas e as promessas embora a campanha pra prefeito e vereador seja mais divertida. Todos seguiram a PPC, a regra número dos marqueteiros: propor, prometer, criticar. Lamento ter que esperar 2 anos para ter tanta diversão a começar quando vejo e ouço: programa eleitoral “obrigatório gratuito”.
Um candidato a governador “prometeu” acabar com o “problema da segurança” iluminando as ruas das áreas mais perigosas da periferia da cidade. Acho que o infeliz não sabe (ou se faz de besta?) que segurança não é problema; é como dinheiro; problema é quando falta. Além disso, iluminação pública e tarefa de prefeito.
O adversário desse promete acabar com todas as casas de taipa; vai construir de tijolos com reboco e tudo o mais. O sertanejo quer é “água de beber” – se cavar um poço sai água salobra, no sertão é assim – e quer continuar com sua casa de taipa porque dentro dela não é quente, é fresquinha, e a noite “É até friinha”. É verdade.
A Marina, que me lembra um pé de pau seco, continua se “achando” e com um milhão de votos a mais na bolsa somado aos 20 milhões que já tinha, tornou-se doceira. E fazendo doce, só por alguns dias, tornou-se chantagista. Não aceita diminuir a menor idade penal alegando que não temos locais adequados para “apenamento”. Que bobagem é essa? E também não quer reeleição. A Marina é lulanática, ainda sofre as sequelas dos tempos do lulismo petista que ela ajudou a fundar e manter.
De tanto ouvir falar fui dar uma espiada nos tais debates. Que coisa esquisita! É um minuto pra um, outro minuto pra outro; uma coisa parecida com sei lá o que. Menos com debate. Mesmo com tempo de pergunta e resposta “combinado anteriormente com os assessores dos candidatos” (O que é que eles “combinaram”?) a coisa mais parece bate boca de maloqueiro; xingamento na hora do recreio de grupo escolar. Uma coisa que me lembrou dos botecos da Rua Cabo Rocha ou aquele trecho da “Volunta”. Quem se lembra delas?
Alguém me disse que os debates parecem um cabaré. Negativo! respondi impávido como um colosso daqueles tempos. Respeite o cabaré! Continuei meu discurso - pra não sair do tom reinante -. Num cabaré exige-se respeito e compostura. Neles as propostas são claras: como se faz, com quem e o que se faz, quanto custa e quem e como se paga; a vista. Neles ninguém passa a mão no traseiro da dama do outro; ninguém fica devendo nada a ninguém e a liberdade de escolha existe de fato e de direito, sobretudo. Ninguém patrulha ninguém e não há a preocupação de ter que ser politicamente correto, pois lá, todos são. E quem quiser baila. E enquanto a orquestra toca a típica descansa (pra quem não sabe: é um conjunto com piano, contra baixo, um violino e o majestoso bandoneon a tocar tangos, milongas, chamamés e polcas).
E veio o segundo turno e a Dilma foi reeleita, conforme se podia prever por razões simples e caminhos e acordos complexos que só a política pode engendrar além da nossa vã filosofia e capacidade de aceitação. E foi o que se viu na campanha; dizem que foi a mais agressiva a mais isso e aquilo como “nunca antes nesse país” (tomo o termo como uma referência cultural, o que há de se fazer?).
Além disso, os tais jornalões e televisões resolveram que “histórico” (a) é sinônimo de grande, maravilhoso, horroroso, incrível, espetacular e outros adjetivos. Dizem que esta eleição foi histórica; um fato ou evento que só existe no futuro, coisa do passado que se conhece e a qual nos referimos somente no presente. Desconfio que isso seja um modismo passageiro e que deve desembarcar já na próxima estação, bem antes do fim da linha, levando junto o “fazer selfi”.
Gosto do Brasil, de suas particularidades e de algumas peculiaridades; especialmente do nosso português brasilino. Gosto de tantas coisas porque nasci aqui; poderia ter nascido na ilha de Tonga ou no Zaire e hoje estaria com Ebola falando francês. Tudo ao acaso.
Não gosto dessa nossa inferioridade canina, dessa nossa ingenuidade subdesenvolvida, desse gingado enganador, desse nosso pobrismo intelectual. E, principalmente, tenho o mais profundo desprezo reverente e ilimitada desconsideração por quem conduz nossa nação e também por políticos em geral, todos eles, e por burocratas com pose de dona de cabaré. Sinto misericordiosa compaixão, como se eu fosse cristão, pela maioria de um povo iludido pela minoria amoral eleita democraticamente por eles. Um mistério doloroso. Ou um paradoxo democrático?
Não aceito – mas o que eu posso fazer? – esse nosso sistema eleitoral onde 50% mais 1 ganha sob a insatisfação da outra metade que passa a ser tratada como minoria. Quem sabe um mínimo de como funciona os quocientes eleitorais, hão de concordar comigo. Quem será o Tiririca da próxima eleição? Ele mesmo, de novo. Creio que 99% dos eleitores não sabem o que representa seu voto e nem o que resultará dele numa urna que não se pode recontar votos e nem passa recibo ao eleitor.
Não gosto da urna eletrônica que pode ser manipulada, com o já foi nos Estados Unidos depois de um estudo feito em 2006 pela Universidade de Princeton comprovando que ela não é segura. O fabricante, banido do país, a Diebold é o mesmo fornecedor das nossas urnas; marca Diebold. E denúncias e provas contra as urnas eletrônicas existem e chegam ao TSE. Porém quem ousar desconfiar do TSE ou da urna eletrônica será condenado por litigância de ma fé, quem disse isso foi, o ministro Ricardo Lewandowski dia 08/04/2010 no plenário do TSE no julgamento do pedido de pericia para esclarecer a suspeita de fraude nas eleições de 2006 em Alagoas. Nesta eleição, de 2014, o advogado do PT e de José Dirceu, o José Tofóli, agora presidente daquela suprema corte eleitoral garante a lisura do pleito e que a urna eletrônica e confiável e inalterável. Uma coisa é ser difícil de alterar, outra é ser inalterável. Além do mais o jovem ministro presidente não permite que um concorrente proteste, duvide, peça revisão ou recontagem de votos porque essas urnas são inquestionáveis; e quem o fizer será multado. Ora, esse rapaz está dizendo antecipadamente que não haverá um crime e quem fizer a denúncia esta cometendo um delito.
Não sou advogado, por óbvio, tanto quanto não sou idiota; ele é. E está violando o Direito e a lógica elementar; isto é: da natureza do Direito, de seu fundamento, de seu princípio. Como ele pode garantir que não haverá crime? Como ele pode condenar, então, o criminoso? Por que antecipar o Horário de Verão em uma semana, coincidindo com o período eleitoral? Por que divulgar a apuração dos votos apenas quando chegar a 90% do resultado? Fuso horário? E daí? Por que não iniciar a apuração dos votos e divulgar os resultados após o encerramento da votação as 17h00min do local onde está a urna? Qual é o problema se o resultado final for proclamado as 22h00min, a meia-noite ou às duas horas da madrugada? Qual é o problema?
O jornalista Carlos Newton escreve na Tribuna da Imprensa (que já foi impressa e de propriedade do Carlos Lacerda) “Em reveladora e estarrecedora entrevista à Beatriz Bulla, do Estadão, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro João Otávio de Noronha, confirmou que somente um pequeno grupo de técnicos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) assistiu o minuto a minuto da totalização dos votos.
De acordo com o corregedor-geral, foi por ordem direta de Toffoli que o TSE montou um esquema para manter isolados os técnicos responsáveis pela apuração, sem contato inclusive com outros membros da Corte.
E o mais inacreditável é que, ainda segundo o corregedor-geral João Otávio de Noronha, a orientação dada pelo presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, era para que os técnicos não informassem nem a ele o resultado parcial da eleição antes da abertura dos dados para todo o País.
Como todos sabem, essa abertura dos dados somente ocorreu já depois das 20 horas, quando estava assegurada a “eleição” da candidata oficial Dilma Rousseff. Esses são os fatos – verdadeiros, indiscutíveis e irrefutáveis – que marcaram as estranhíssimas inovações desta eleição presidencial, em que não houve transparência nem fiscalização. As declarações do corregedor-geral João Otávio de Noronha são inaceitáveis e assustadoras, porque jamais ocorrera no país uma eleição em que até mesmo as maiores autoridades da Justiça Eleitoral foram proibidas de acompanhar a apuração.”
POR QUE DEVO ACEITAR?
Como pode um presidente da república, renunciar o cargo para preservar seus direitos (!) políticos e depois ser eleito vereador? Por que devo aceitar um vice do candidato eleito por mim seu eu não votei nele? Por que devo aceitar que um sujeito desconhecido, 4º suplente de deputado federal, por exemplo, assuma um mandato na Câmara no lugar do sujeito que eu elegi porque ele foi dirigir uma companhia estatal?
Por que devo aceitar que o vice de prefeito, governador e presidente da república assuma o poder quando o titular viaja para tratar de assuntos econômicos e políticos da minha cidade, ou do meu Estado ou do país? São dois sujeitos com poderes idênticos no mesmo cargo simultaneamente.
Por que devo acreditar em Tribunais de Contas responsáveis por examinar os gastos dos agentes públicos, apontar irregularidades e superfaturamentos em obras e serviços, e tentar evitar que recursos governamentais sejam desperdiçados, se “a maior parte deles” é escolhida por critérios políticos; muitos têm parentes importantes, e há pelo menos dez casos em que a Justiça os afastou da função após descobrir irregularidades, proibindo-os em alguns casos até mesmo de passar a menos de 100 metros da instituição que deveria zelar pela boa aplicação do dinheiro público? É como entregar meu dinheiro para o ladrão cuidar para que ninguém o roube. Conselheiros de Tribunais de Contas, além do salário, têm direito a carro com motorista, diárias, verba para aluguel residencial e até 14º e 15º salários. Y algunas cocitas mas, por supuesto – como se diz em bom portunhol.
Porque um (ou que seja uma) presidente da República deve se preocupar em construir creches? Isso é tarefa de prefeito. Não sou médico nem economista também, mas deles, de treinador de futebol e de louco, dizem, temos todos um pouco.  Quem não sabe que se gastar mais dinheiro do que recebe vai ficar devendo alguma coisa?  É burro ou perdulário. Quem disse que tirando o IPI do preço dos carros aumenta o consumo e assim baixa a inflação? Aumenta a inadimplência; já que o infeliz proprietário de um carro novo, lá pelo quarto ou quinto mês, não consegue mais pagar a “prestação”. E tem mais. Muitas outras coisas com as quais não concordo e sei lutar contra elas com o que tenho é o mesmo que dar murro em ponta de faca.
Se o Paraguai invadir o Brasil dando o troco pelo massacre e destruição que o império brasilino perpetrou contra eles, - na época o país mais prospero da América do Sul não dependendo do “apoio” financeiro de nenhum país europeu -  por ordem da Inglaterra, que financiava o Brasil desde D. João VI, aliado com a Argentina -  corro para o Uruguai – que saiu da guerra quando percebeu que não tinha nada a ver com aquela estupidez – e vou morar em Piriápolis, com essa minha vergonha alheia.
VERGONHA ALHEIA
Delírios a parte, fico com minha vergonha alheia já que não posso me desfazer dela. Existem diversas maneiras de sentir vergonha essa sensação esquisita que quando a gente sente não sabe onde se enfiar. Exceto é claro aqueles que não têm vergonha nenhuma; nem meio pingo de vergonha. Quem sente vergonha sente-se arrasado, infeliz e desorientado com esse sentimento que pode roer-lhe as entranhas. Há diversos tipos de vergonha, e uma delas é a vergonha alheia, tão comum hoje em dia que o efeito é passageiro, na maioria. Todo mundo comenta na hora e depois ela vai passando até que o infeliz sinta a próxima.
Essa vergonha, a alheia, como diz o nome, vem de fora da pessoa envergonhada; foi cometida por outro que não o envergonhado. Geralmente as causas são profundas e vem de longo tempo; mas a gente só sente quando ela estoura de vez. Pega de surpresa e, por isso, pode causar maior impacto como o comportamento de algumas pessoas que me faz pegar nojo. De outras, pego admiração. Peguei nojo, e faz tempo, de gente espaçosa; aquelas que ocupam as três dimensões simultaneamente, (que palavrão!) que roubam o oxigênio num raio de mil quilômetros.
Os exemplos são tantos que perdi a conta e as anotações embora muitos deles não me saem da lembrança. Certa vez numa loja de artesanato numa cidade do nordeste dois turistas gaúchos compravam as pampas e gritavam como quem toca as vacas no campo num petiço sogueiro. Um deles percebeu que eu estava olhando com olhar de nojo e aí sem imaginar que eu era seu conterrâneo, sem dúvida, soltou num berro: “vou levar mais um destes pros tchês lá de baixo”! Ninguém entendeu nada; nem os gaúchos. Mas o que era mais um destes pros “tchês lá de baixo?” Era rapadura, que se comprava em Santo Antônio da Patrulha a caminho da praia, além de sonho e cachaça azulzinha (não sei se ainda é assim). Mais conhecida no nordeste, a rapadura também é conhecida, produzida e consumida na maior parte da América Latina – da Venezuela ao México.Menos no Uruguai e evidentemente que também não em Piriápolis.
Outro nojento de um grupo na praia - aqui ninguém tem que levar as traquitanas pra beira do mar. Tem barracas com tudo. Alias barraca é um nome que ficou pelo hábito, pois algumas são tão, digamos, sofisticadas, que tem piscina – grande, de nadar e mergulhar – garçons, bar, restaurante... Pois um nojento espaçoso e sua turma bebiam cerveja – outro detalhe: são sempre muito geladas – quando um deles levantou-se arregaçou a bombacha até os joelhos e vestido com uma camiseta onde se lia “Sou do Sul”, passou a mão na cuia de mate já cevado, meteu uma garrafa termina no sovaco e foi “chimarrear” na beira do mar. E quando a onda chegava mais alta, dava uns pulinhos! Sei lá pra quê. Mas, pensei, será o efeito da água morna do chimarrão com a cerveja gelada no estômago do nojento?
Dei uma gargalhada. O garçom que passava por perto me olhou e eu perguntei: o que é aquilo? “São os gaúchos”, ele respondeu perguntando. “O senhor é paulista, nénão?” - “Não, respondi, sou do Acre”! Juro pela santa mãe de Sepé Tiaraju!
Num intervalo das minhas escrevinhanças liguei a TV pra saber se o diretor da Petrobras ia ou não ia abrir a boca. Abriu pra dizer que não ia abrir a boca. Babaquice minha! Até as paredes sabiam. Mas, foi no exato momento em que o deputado Onix estava falando, chamando o cara de bandido, agarrado numa cuia de chimarrão e segurando uma garrafa térmica. Isso às 3 horas da tarde numa CPMI do Congresso Nacional.
Não estou negando “minhas raízes”, se é que isso existe; mas sou porto alegrense, onde esse estereótipo de gaúcho (não no sentido de preconceito, mas sim de modelo ou conceito estabelecido como padrão) só se vê na “Semana Farroupilha”. É que não suporto mais gente espaçosa; e aqui onde moro também tem muitas delas. E como tem!
NÃO É PRECONCEITO! É IGNORÂNCIA!
Terminada a disputa “dos eles contra nós”, “dazelites contra os menos afortunados (?)”, do “você é ladrão!” – ladrão é você!”sobrou o debate do resultado, acentuadamente, pelas redes sociais acusando os nortistas e principalmente os nordestinos de reeleger a Russef ou Rousseff (às vezes faço essa pequena confusão, pois os nomes – apenas os nomes, por favor – são tão parecidos!!).Foi uma eleição da esquerda contra esquerda, do sofisma ideológico vigarista, poucos dias antes do fim da Guerra Fria entre socialistas e capitalistas. Nesse domingo, dia 9, o mundo comemora a queda do Muro de Berlim.
O jornal O Globo publicou em editorial que “O desenho esboçado no primeiro turno, com a divisão do país em 2 grandes blocos, recebeu traços mais fortes: grosso modo, o Norte-Nordeste perfilado ao PT, o Sudeste/Sul/Centro-Oeste com a oposição. Fica evidente que o país que produz e paga impostos — pesados, ressalte-se — deseja o PT longe do Planalto, enquanto aquele Brasil cuja população se beneficia dos lautos programas sociais — não só o Bolsa Família —, financiados pelos impostos, não quer mudanças em Brasília, por óbvias razões.”
Bom: primeiro que não é “o Bolsa Família” já que o termo exige o artigo feminino.Como escreveram deve constar “o programa”. Segundo: o que pretendem dizer com “não quer mudanças em Brasília, por óbvias razões”? Que obviedade é essa? Terceiro: penso que é impossível manter um diálogo honesto e inteligente com a estupidez inculta do sectário seja ideológico ou teológico. Leio o que dizem – ou falam – para conhecê-los, mas jamais respondo, discuto, polemizo, essas coisas, com a insanidade.
Entretanto, e dessa vez, “mexeram com as minhas bichas” (quem é gaúcho e dos velhos sabe o que isso quer dizer). Ora, vivo no nordeste há mais de duas décadas, casado com uma nordestina e com ela tenho dois filhos nordestinos. Não saio em defesa deles, pois a eles, essas inutilidades, nem lhes “bate a passarinha”.
O editorial do O Globo sugere que os nordestinos são vagabundos; e vagabundo implica em subdivisões agregadas e indissociáveis de outras maledicências. Não gosto e não aceito esse Brasil político; gosto do outro, que é parte do mesmo sem nenhuma divisão ideológica, mas com suas características regionais. Assim como há em outros países: na Argentina um cordobês jamais desejaria viver em Buenos Aires; pedantes, italianos, falando espanhol e pensando que são ingleses. O pessoal de Trás-Os-Montes e Alto Douro, torcedores do Porto, detestam os lisboetas, em Portugal que não entendem o falar galego d´ls. Na Espanha a região basca tem sua própria língua, o catalão, e o Camp Nou (Campo Novo em espanhol) estádio do Fútbol Club Barcelona. O ETA (Euskati Ta Askatasuna – Pátria Basca e Liberdade) tentou ser outro país durante 51 anos. Foram exterminados em 2011. O tenor Josep Carreras exprime bem tal ideia: "Ser torcedor do Barça vai além do puramente esportivo. É o sentimento de raízes, de valores e de uma identidade de país: a Catalunha". E assim é mundo a fora; ninguém é igual nem há unidade. 
A “represidenta” - aprendi com Tio Rei - não foi reeleita apenas com os votos dos nordestinos; ela teve votos em todas as regiões do país e em todos os municípios. Com um pouco mais, ou um pouco menos num e noutro, ganhou na soma total; teve mais votos que Aécio Neto. Só com a diferença de 4 pontos percentuais, quase dentro da margem de erro estatístico não posso nem devemos confiar na “lisura do pleito” mesmo que o Tofóli me puna com multa. Apenas com os votos do  nordeste ninguém é eleito Presidente do Brasil. São 38 milhões de eleitores, este ano. Pode fazer a diferença entre perder e ganhar. Por isso é preciso ter votos no sul, sudeste e centro oeste também.

Assunto encerrado; leite derramado chama o gato. A questão agora é saber um pouco mais do nordeste tão apreciado para férias entre os sulistas e os sudestinos e imaginam que nessa parte do Brasil tudo é igual; comidas, sotaques, etc. Não é. Que mora no litoral tem outra estrutura cultural, diversa da de quem mora no sertão – que os sudestinos e os sulistas, na maioria, apenas têm conhecimento, eventualmente, pelo cinema ou pela literatura. Em 1824 A Confederação do Equador, um movimento revolucionário de caráter separatista e republicano Nordeste, reagiu contra a tendência absolutista e a política centralizadora de D.Pedro I, contida na Carta Outorgada de l824, nossa primeira Constituição. Porém, como penso que todos sabem o movimento revolucionário republicano nordestino foi esmagado um ano depois. Como também foi dez anos depois do início em 1835, a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina,  por D. Pedro pai. Motivos e causas à parte, muita gente ainda hoje quer separar o Brasil na conversa, nas escritas, nos editoriais de jornais e redes sociais.
Quem não conhece ou pelo menos já ouviu falar em Caetano Veloso, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Caetano, Gil, Fafá de Belém, Tom Zé, Torquato Neto, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Fargner, Belchior, Ednardo, Reginaldo Rossi, Waldick Soriano, João do Vale, Zeca Baleiro, Alcione, Raul Seixas, Dorival Caymmi e família; a lista é grande. Não é preciso gostar – ou conhecer – todos, mas  eles existem, ou existiram.
E no humor de Tom Cavalcante, Renato Aragão e Chico Anysio além de mais da metade dos alunos da antiga Escolinha do Professor Raimundo, todos nordestinos.
Na música erudita, dos compositores Alberto Nepomuceno, Paurillo Barroso, do cearense Eleazar de Carvalho. Ritmos e melodias nordestinas inspiraram Heitor Villa-Lobos. Na Bachiana Brasileira nº 5, na segunda parte - Dança do Martelo – faz referência ao sertão do Cariri, uma região do sertão do Ceará com oito cidade, um milhão de habitantes, 3 Universidades, sendo uma delas Federal,12% da população adulta com curso superior completo,Museu Paleontológico com fósseis de animais que viveram na região há milhões de anos, metrô e aeroporto de porte com voos diretos ao Rio e por toda a região. Além do mais, terra do Padim Ciço Romão Batista.
Na literatura brasileira são nordestinos João Cabral de Neto, José de Alencar, Nelson Rodrigues, Rachel de Queiroz, Gregório de Matos, Graciliano Ramos, Ferreira Gullar, Manuel Bandeira, Jorge Amado, José Lins do Rego, Gilberto Freyre, Ariano Suassuna que a pouco se foi, e Clarice Lispector, nascida na Ucrânia declarava ser pernambucana.
E os jornalistas Ricardo Noblat, Geneton Moraes Neto, Xico Sá, Assis Chateaubriand, Rachel Sheherazade, Audálio Dantas, Lêdo Ivo, Carlos Castelo Branco, o Castelinho – os mais velhos sabem quem foi -, Joel Silveira, Ancelmo Góis, Sebastião Nery, Gervásio Baptista – fotografo das revistas O Cruzeiro e Manchete, o pai do fotojornalismo brasileiro.
E tem mais; muito mais além de políticos, filósofos, militares e de uma centena de profissões e atividades que saíram do nordeste e foram fazer um Brasil mais culto, mais civilizado, mais importante ao lado de brasileiros de outras regiões. Mas, brasileiros, não somos todos iguais e nossas diferenças são muito maiores do que em geral acredita a maioria. Tanto quanto um gaúcho de Horizontina, noroeste do Rio Grande do sul, terra de Gisele Bündchen, onde a maioria de seus habitantes fala dialeto alemão “Riograndenser Hunsrückisch”, não pode ser igualado a outro de Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, mais perto de Montevidéu do que de Porto Alegre. Também não iguala um mineiro de Belo Horizonte com outro de Uberlândia; esse culturalmente tem mais a ver com um goiano assim com um de Juiz de Fora é quase carioca. Mineiros do Vale do Jequitinhonha mais parecem com nordestinos do Raso da Catarina.
Em Salvador, que os sudestinos chamam de Bahia, tem baiana, tem caruru, tem mungunzá, acarajé, berimbau, candomblé, Olodum, Carlinhos Braum (!) e Ivete Sangalo. Tem saveiro, pescador, peixe e camarão. No sertão não tem. Tem é gente que nem sabe que isso existe. Come outra comida, não dança Axé nem frequenta candomblé. É cristão sertanejo como são todos os sertanejos dos oito Estados nordestinos. Um cristianismo que o sul e o sudeste jamais viu e quando ver não entenderá; sua liturgia,seus cânticos,suas práticas,sua linguagem.
Quando um sulista ou sudestino entrar na caatinga de areia vai sentir o calor seco e sufocante, os arranhões da Jurema e o que é sede. Talvez compreenda por que votam em quem lhes dá um “dinherim” pra compra farinha, café, açúcar, ”água de beber”e se sobrar um “pucadim”, uma alpercata pra um dos “mininim”. Vai entender que esse voto não é igual ao dos pobres sudestinos. Vai entender que esse voto vale mais; é o que lhes garante a vida, ainda que breve, pois é sua única proteção contra a morte. Para eles, o que importa se é esmola? Se é politicagem populista, eleitoreira, “indústria perpétua da seca”? Importa é que o “coroné mandou votá” e o Padim Ciço tá ajudando. É dessa obediência ao cabresto e dessa fé que vem o “dinherim”. Não é da Bolsa Família, mas é a Dilma que manda. O povo, eleitores de todas as classes socioeconômicas, não vota em propostas, em projetos, em direita ou esquerda. Vota em nomes, em quem lhes assegura realizar seus desejos, suas necessidades, suas crenças, suas aspirações. Seja a Neca Setubal ou o Zezim do Bode. E ganha quem pode com meios que justifiquem os fins.

Nota: agradeço a colaboração, nas pesquisas necessárias, de Vulpino Argento, o Demente, suplente de senador, condenado a 45 anos de prisão há poucos meses, mas já gozando as delícias de cumprir a pena em regime aberto.